Filas de espera para comprar bilhetes para U2

 

     Há mais de dezasseis anos, foi um filme dos diabos para conseguir comprar bilhetes para o concerto dos U2. A banda irlandesa vinha actuar a Portugal, oito anos depois da última vez que tinha cá actuado. Seria também a primeira vez que vinham cá, após de lançarem os dois Best of, que lhes valeram algumas platinas e porque muita gente, ficou fá da banda, pelo lançamento dos discos.

      Não foi só em Portugal, mas aconteceu em todo o lado. Parece que o mundo parou quando os bilhetes ficaram disponíveis, para venda. Aqui em Portugal, começaram a estar disponíveis nalgumas FNACs do país. Alguns fãs levaram sacos de cama e roupa de neve para passarem a noite, a ver  se conseguiam bilhetes para o concerto. Eu levantei-me às sete da manhã para me meter na fila da Fnac do Colombo. Quando cheguei, a fila era enorme. Já lá estavam centenas de pessoas, à espera para conseguir comprar um bilhete. Ainda estive lá pouco mais de duas horas para tentar a minha sorte. Não me lembro quantos bilhetes havia à venda mas, na conversa que tive com as pessoas que estavam próximas de mim na fila, disseram que o mais provável era não conseguirmos bilhetes, porque cada pessoa podia comprar no máximo quatro bilhetes.

     Por volta das dez da manhã, duas raparigas que estavam à minha frente, receberam uma mensagem e saíram da fila sem terem falado uma com a outra. Foi porque lhes foi informado que já não iam conseguir. Assim que elas se foram embora, também abandonei a fila. Desisti e pensei: “já não vou conseguir ver os U2”.

      Nessa tarde, um amigo meu liga-me a perguntar se não queria ir ter com a namorada dele às bombas da BP para registar lá o meu nome e fazermos turnos para conseguirmos bilhetes para o concerto. Eu disse que sim. Ela já lá tinha chegado e registado o nome dela na fila para a compra. Fizemos três registos. Em nome dela, meu e do namorado também. Para comprarmos doze bilhetes.

    Para não haver confusões, um grupo de pessoas organizou, como devíamos comprar os bilhetes. Deixavamos registado o nosso nome, mais o número de identificação. Para quando essa pessoa se fosse embora, poder lá estar alguém que estivesse por ela, desde que tivesse a sua identificação. Que foi o que aconteceu connosco. Por volta da meia-noite, o meu amigo (namorado dela), foi lá ter e tomou o lugar dela. Isto é, ficou lá comigo, tendo também o seu bilhete de identidade. Porque eles de duas em duas horas chamavam as pessoas que lá tinham registado o seu nome. Fizeram a primeira chamada à uma da manhã, eu estava lá, o meu amigo também, e quando foi chamado o nome da sua namorada, ele estava lá por ela, mostrando a sua identificação.

    Eu fiquei lá até às três da manhã, tendo ido o meu irmão e mais um amigo nosso para os nossos lugares. Na hora da chamada, chamavam as pessoas para ver quem estava presente. Quando o nome de uma pessoa era repetido, Todo o pessoal dizia: “Riiisca”.

     Eram sete da manhã, quando o meu irmão me ligou a dizer que dentro de meia hora iam fazer a última chamada e para eu aparecer. Assim fiz. Levantei-me, não tomei banho, nem pequeno-almoço, meti-me no carro e fui directo da para lá. Nem quatro horas tinha dormido nessa noite.

     Eram cerca da uma da tarde quando me chamaram para comprar os meus bilhetes. Como o meu primo fazia anos nesse dia, sendo ele fã dos U2 e tendo já visto a banda irlandesa quatro vezes ao vivo, eu e o meu irmão decidimos oferecer-lhe um bilhete como prenda de anos. Melhor prenda que esta seria impossível.

     Foi uma experiência engraçada. Meio ano depois estivemos no estádio de Alvalade para ver o concerto, éramos um grupo de oito pessoas e dois dos nossos bilhetes não tinham sido picados. Que fizemos? Ligamos a um amigo a perguntar, se ele queria vir ver o concerto. Então um dos meus amigos saiu do estádio para ir ter com ele, entraram os dois com os bilhetes que ainda não tinham sido picados. Sortudo ele. Para além de não ter pago bilhete, não passou pelo sacrifício que nós passamos na noite atrás das bombas da BP do Areeiro, ao frio. Existem sortudos para tudo.

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