As belas praxes

 

Como diz o nosso amigo Sérgio Godinho e bem, “Maça com o bicho acho eu da praxe”. As praxes foram das piores coisas que deus já inventou. As reitorias das universidades, bem como as directorias das escolas deviam de se reunir e acabar com as praxes de uma vez por todas. Qual é a piada delas? Isto são boas vindas de se darem aos caloiros? Porque é que o governo não toma uma forte medida relativamente às praxes? Acabar com elas de uma vez por todas, e quem fosse apanhado a praxar, devia ser expulso do ensino onde está a estudar.

          Os estudantes organizadores das praxes que têm a mania que mandam nos caloiros, fazem isto para quê? Para mostrar que são grandes doutores?! Querem mostrar aos caloiros que são grandes garanhões! Que mandam neles?! Sim. Mandam. Isto porquê? Porque os próprios caloiros os deixam. Há faculdades em que não obrigam os caloiros a serem praxados. Mas com o acordo de não praxarem os caloiros nos anos seguintes. Mas acontece, que há estudantes que não chegam a ser praxados, e nos anos seguintes fazem parte da comissão das praxes. Ou são alérgicos ao batom, dizem que têm uma rotura no joelho para não fazerem certo tipo de actividades, e os mais espertos só começam a frequentar a faculdade duas ou três semanas depois, mesmo para não serem praxados.

         Mas existem faculdades, liceus e escolas secundárias em que as praxes são mesmo obrigatórias. Quem não quiser ser praxado não tem como fugir. Tem apenas uma opção. Não entrar no recinto e pedir a transferência para outra escola. É a única hipótese que tem para não ser praxado.

         Existem abusos, e abusos que os estudantes fazem aos caloiros. No Liceu Diogo de Gouveia e na escola secundária D. Manuel I, ambas em Beja, os estudantes fazem a coroa aos rapazes querendo eles ou não. Cortam um bocado do cabelo na nuca, e os caloiros têm que se portar da melhor maneira possível, para além de outras coisas que lhes fazem. Ao mínimo desrespeito ou de discórdia, o caloiro arrisca-se a que lhe cortem o cabelo todo, caso ele se porte mal. Esta é a principal praxe que fazem. Fora outros comportamentos vergonhosos que lhes fazem. Desde medir o campo de futebol da escola com um palito, pintar-lhes a cara com um batom, partir-lhes um ovo na cabeça, pô-los a jogar joguinhos, correr não sei quantas voltas à escola, irem pedir dinheiro nos semáforos para pagarem as praxes, etc.

          Outros gostam de mandar nos caloiros, desde mandá-los ir ao bar comprar-lhes um sumo, fazer-lhes uma massagem nas costas, pedir-lhes um cigarro e outras brincadeiras que envolvem um pouco de abuso sexual. Existem outras actividades bem piores que envolvem alguma violência, desde enfiar um sabonete no ânus, meter um ovo dentro dos boxers e pedirem a um caloiro para que lhe parta o ovo, caso ele não o faça vai ao tribunal de praxe, como também há rapazes que abusam de caloiras sexualmente desde apalpar as maminhas, o rabo e outras partes íntimas.

         Em épocas de praxe, vêm-se caloiros com t-shirts desenhadas e a cara pintada com batom. São caloiros que foram abusados nas praxes e que vão para as suas respectivas casas todos besuntados das brincadeiras de mau gosto no início de uma fase escolar/universitária. Que dizem os pais destes caloiros, quando chegam a casa e vêm que os filhos foram vítimas das praxes?! Será que os pais admitem que os seus filhos sejam abusados nas praxes, e os pais daqueles que praxam os caloiros, deixam fazer o que os filhos querem?! Ou o mais provável é os pais desses estudantes não saberem que os seus filhos fazem parte das comissões das praxes. E se acontecer algo de muito grave (como o caso do Meco), quem se vai responsabilizar?

         No início de cada época escolar, há sempre a preocupação dos pais quando os filhos vão para a faculdade. Eles sabem que vão ser praxados, principalmente quem tem filhas que chamam a atenção dos rapazes. Os próprios pais não se vão sentir à vontade durante a época inicial, porque sabem que os seus filhos vão ser abusados nas praxes e que essas brincadeiras de mau gosto lhes podem sair caras.

         Verdade seja dita que há caloiros que não gostam de ser praxados, mas quando chega a vez deles poderem praxar, não perdem essa oportunidade. As pessoas perguntam-lhes: “Se não gostaste de ser praxado, porque vais praxar?”. E eles respondem sempre: “Porque também fui praxado!”. Então a pergunta que se faz a eles é, “Que culpa tiveram os caloiros actuais de teres sido praxado?!”. Um antigo estudante não deve despejar a maldade que lhe fizeram perante pessoas inocentes.

Comentários

  1. Diogo Lopes:

    As praxes são um assunto polémico. Quase tanto como a tourada ou um jogo Sporting x Benfica.
    Quando te referes ao Liceu Diogo de Gouveia, eu próprio fui vítima de praxe, cortaram-me uma tigelada tão grande que parecia um frade.
    Mas também me sinto culpado, pois 2 anos depois, eu também praxei alguém... Praxei 2 moços, nada mais, mas acho que a vingança do meu eu tomou conta de mim. Estou arrependido por tê-lo feito, pois de uma coroasinha feita por mim, um dos desgraçados apanhou outro veterano que achou que o meu trabalho estava mal feito e alargou a minha "obra", depois veio outro e pintou, de seguida a velha colher de pau que serviu para ele se bater nele próprio. Havia gente que não sabia onde parar...
    Quando entrei para a faculdade não fui praxado com nada de violência nem pinturas, pois não o admiti. Ao invés, participei em jogos e algumas brincadeiras sem maldade. Bebi uns copos e convivi com os demais.
    Não voltei a praxar ninguém, senti que nada haveria de mudar a minha vida com tal, muito pelo contrário, há pessoas que ficam marcadas para a vida inteira com as praxes e, tal como o elefante, nunca esquecem.
    Quanto aos "Doutores" que nunca foram praxados, mas que depois fazem parte do tribunal de praxe e andam armados aos "cucos" (sem ofensa aos passarinhos), praxando e xingando os caloiros que um dia poderão vir, quem sabe, seus chefes, faz-me lembrar a história dos macacos, da escada e da banana. passo a citá-la aqui:
    Um grupo de cientistas colocou 5 macacos numa gaiola e no meio desta colocaram uma escada com bananas no topo.
    Cada vez que um macaco subia a escada, os cientistas disparavam um jato de água fria nos restantes.
    Passado algum tempo, cada vez que um macaco tentava subir a escada, os outros macacos batiam-lhe com receio de ficarem molhados.
    Com o passar do tempo, nenhum macaco ousava subir a escada apesar da tentação.
    Os cientistas então decidiram substituir um dos macacos. A primeira coisa que esse novo macaco fez foi subir a escada. Imediatamente os outros macacos bateram-lhe.
    Depois de alguns espancamentos, o novo macaco aprendeu a não subir a escada mesmo que não soubesse o porquê de tanta agressividade.
    O segundo macaco foi substituído e a mesma coisa aconteceu: apanhou forte e feio. O primeiro macaco participou no linchamento do segundo macaco. Um terceiro macaco foi substituído e o mesmo se repetiu. O quarto foi substituído e o espancamento foi repetido e, finalmente, o quinto macaco foi substituído.
    O que restou foi um grupo de 5 macacos, que mesmo sem nunca terem recebido um banho de água fria, continuaram a bater em qualquer macaco que tentasse subir a escada para comer as bananas.
    Se fosse possível perguntar aos macacos porque batiam em quem quer que tentasse subir a escada, acho que a resposta deles seria: “Sei lá. É assim que as coisas funcionam desde que aqui cheguei! É porrada? A gente dá!”

    Assim tens o assunto das praxes resumido num mar de grandes macacadas!
    Acho que o provérbio de cada macaco no seu galho também se adequa, tem é de ter um par de "tomates" bem grande, seja para não ser praxado, praxar, não praxar ou até proteger quem é vítima e não se consegue defender.

    Cada um sabe de si...

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    Respostas
    1. Pois é Diogo, a vida é feita de arrependimentos e coisas estúpidas. Felizmente nunca praxei ninguém e a única praxe que me fizeram, foi também a coroa, mas foi um amigo meu que fez por uma questão de precaução. Quando entrei para a faculdade, entrei tarde e as praxes felizmente já tinham terminado.
      Essa história dos macacos, é um bom exemplo e obrigado por teres partilhado.
      Abraço

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